15.6.04

Ações Definidas

BASTA! é um movimento inteiramente independente que está nascendo de pessoas cujo único objetivo é ajudar, fiscalizar, pressionar e cobrar do governo Municipal, Estadual e Federal, e da comunidade política, ações efetivas para a redução imediata da miséria e do caos que vem tomando conta do Brasil.

Eu acho extremamente vagos todos os movimentos pela paz. Cada geração que chega pede paz e não violência, depois reclamam que a violência cresce e querem mais paz e não violência. Pode parecer paradoxal, mas a paz excessiva gera a violência!!! Pois a paz excessiva faz com que ninguem reaja para impedir atos de violência, ou seja, sempre que alguem desreipetar a paz não será punido, pois toda punição é um ato de violência e causa sofrimento àqueles que são punidos. Por isto sou a favor dos movimentos de ação definida. Eu chamo de "ação definida" todo movimento que tem um objetivo claro, possuem um método de obtenção de resultados específicos, impõe um prazo específico para ocorrerem e não se baseiam em especulações utópicas. Todo movimento pela paz é sem objetivo, sem método para a obtenção deste resultado, sem prazo específico e utópico, pois como disse a paz nos moldes que são propostos, leva à inação e à intimidação diante da violência. Recentemente no Rio de Janeiro surgiu o movimento de ação definida chamado "BASTA". Abaixo segue na integra a sua definição pela autora do movimento.

Normalidade Doentia

Sou psicanalista há 20 anos e, de três semanas para cá, tornei-me militante da cidadania, que, no Rio, se divide curiosamente em quatro tribos.
1- A primeira é formada por aqueles que fazem da alienação uma defesa contra o horror experimentado na crescente banalização do mal. Passado o tiroteio na Rocinha, os alienados de carteirinha retornam à ?normalidade? do nosso patológico cotidiano, indiferentes à sua perversidade.
2- A segunda tribo é constituída pelos que ficam deprimidos diante da violência brutal e do nosso desamparo. Sem esperança, seguem adiante, resignados com a nossa trágica realidade. Exaustos e abúlicos, recusam-se a lutar. Aqui a desesperança é a mãe da rendição.
3- A terceira reage de forma paranóica. O medo e a raiva que sentem diante do perigo produzem um ?curto-circuito? nas idéias, levando-os a imaginar que serão vítimas de retaliação caso protestem. Espreitam o perigo na defesa e, apavorados, refugiam-se em seus bunkers particulares.
4- Uma minoria é formada pelos inconformados que arregaçam as mangas: parentes de vítimas da violência e cidadãos indignados. Manifestam-se porque compreendem que a "normalidade" do Rio de Janeiro, na verdade, é uma guerra civil. Sabem que na emergência não interessa de quem é a obrigação de cuidar do assunto e nem de quem é a culpa. O que importa é quem pode fazer alguma coisa e já. E a insubstituível força da opinião pública unida, pode. E muito.

Recentemente, mudei de atitude e entrei para o quarto grupo. Felizmente, minha indignação não foi determinada por tragédia pessoal. Encontrou seu limite no drama que a cidade viveu na Páscoa. Deprimida e debruçada sobre a minha varanda, em frente ao Morro Dois Irmãos, lamentava minha impotência diante do inaceitável estado de coisas. Subitamente, percebi que não estava tão impotente assim: afinal a ?varanda das lamentações? é um enorme outdoor, numa das áreas de maior circulação da Zona Sul. Resolvi colocar uma faixa escrito ?BASTA!? E a transformei na ?varanda da reivindicação?.

Como ninguém é valente o tempo todo, num primeiro momento fiquei apreensiva com a repercussão que meu ato teria, e andei, emocionalmente, ?umas casas para trás? fazendo uma visitinha ao terceiro grupo. Uns poucos moradores do prédio, e habitués desta tribo, sentindo-se ameaçados pela faixa, e temendo uma retaliação dos traficantes, pediram-me que a retirasse. Fora eles, ninguém parecia notar.

Do meu ponto de vista, a cidade inteira parecia estar entorpecida, como nas fábulas. Parecia que uma alucinação negativa (alucinação às avessas, deixar de ver o que está na nossa cara) e coletiva a impedia de perceber um "BASTA!" vermelho de 7m x 2m. Aterrissei sem pára-quedas no segundo grupo e, deprimida, comecei a perder a esperança.

Não importunei ninguém com a ?minha? campanha, como ouvi algumas vezes. Todos achavam a idéia ótima, mas pouquíssimos aderiam de verdade. Jamais insisti. Uma semana após o tiroteio, pessoas, teoricamente lúcidas, pareciam sugerir que o ?meu? assunto estava com o prazo de validade vencido, afinal, tudo já voltara ao normal. Comecei a me sentir quixotesca....

Dez dias depois de ter colocado a faixa, desiludida e correndo o risco de me tornar membro efetivo da segunda tribo, recebo um telefonema de uma jornalista do GLOBO, perguntando se alguém da minha família tinha morrido para eu estar fazendo isso. Ri e respondi que era para que não morresse. Animada com a simpática matéria que ela escreveu, comecei a recobrar a esperança. Durou pouco. No mesmo dia, o pessoal do prédio, assustado com a repercussão da reportagem, deu-me um ultimato para tirar o "BASTA!" da fachada. Mesmo com mil adesivos prontos, e um site em construção, naquela noite de sexta tirei da fachada minha indignação ? e desisti.

No dia seguinte acordei com meu filho de seis anos aos berros: Corre para a varanda, mamãe, a vizinha do prédio ao lado colocou uma faixa igual à nossa! Aquela manhã fez com que tudo valesse a pena, de camisola e antes mesmo de escovar os dentes, eu pulava e chorava enquanto abanava para a vizinha desconhecida que me reconduziu definitivamente para o quarto grupo. Minha faixa está pendurada novamente, dessa vez no alto da varanda dentro do meu apartamento. Mesmo assim, já disse aos vizinhos que não cometerei a violência de uma imposição, se for desejo da maioria, eu a retiro para que vença a democracia. Posso retirar a faixa, mas não mais a minha indignação.

A cidade, como que despertando de seu encantamento fabular, pouco a pouco oferece adesões, o movimento começa a se fortalecer e a construir um interessante banco interdisciplinar de idéias. Tenho esperança, mas não deixo de ser realista porque sei o quanto é difícil arrancar as pessoas de seus bunkers emocionais. Mas se a minha escolha tiver de ser entre a utopia e a rendição, fico com a primeira, e não abro. Porque para mim BASTA! Mesmo.

Beatriz Kuhn é membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro

Sempre foi meu objetivo através deste blog, tentar despertar esta cosciência nas pessoas, ou pelo menos nas pessoas sensantas. O país não pertence aos políticos e sim a nós cidadãos comuns que pagamos impostos e votamos. Temos que nos mobilizar contra toda autoridade judiciária, executiva e parlamentar que não esteja fazendo as coisas do modo como queremos, pois colocamos eles lá em cima para que nossas vontades fossem satisfeitas. Defenda o que é seu, defenda seu país.

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